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A Salgadeira

Antes dos frigoríficos chegarem a todas as casas, havia um saber antigo que garantia alimento para os dias frios de inverno e para os tempos de maior escassez. Em Santana, como noutras aldeias portuguesas, esse saber chamava-se salgadeira — uma arca de madeira, simples mas essencial, onde a carne era conservada com sal grosso durante semanas ou até meses.

A matança do porco, geralmente feita no final do ano, era um dos momentos mais importantes da vida familiar e comunitária. Nada se desperdiçava. As carnes mais nobres eram cortadas com cuidado e colocadas na salgadeira, camada por camada, intercaladas com sal. O processo exigia tempo, paciência e conhecimento passado de geração em geração. Ali, dentro da arca, a carne ganhava sabor e durabilidade — sem precisar de refrigeração.

A salgadeira era, portanto, mais do que um utensílio doméstico. Era um símbolo de resiliência e planeamento. Garantia proteína para meses, especialmente nos lares onde a ida ao talho era ocasional e onde tudo se fazia em função do que havia em casa. Num tempo em que a vida se organizava à volta do que se colhia, criava ou conservava, a salgadeira era parte central dessa lógica.

Além do aspeto prático, havia também o lado social. Preparar a salgadeira envolvia a família, às vezes os vizinhos, e reforçava os laços comunitários. A troca de técnicas, as dicas para um melhor tempero ou o segredo de uma cura perfeita faziam parte dessa tradição oral e partilhada.

Hoje, restam poucas salgadeiras em uso. Algumas ficaram guardadas como relíquias, outras desapareceram com o tempo. Mas o seu papel na história alimentar e cultural permanece vivo na memória de quem cresceu a ver o sal cobrir a carne com promessas de sustento e sabor.



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