António Gil | 12 Anos ao Serviço da Arbitragem Portuguesa
- Jorge Monteiro
- 31 de out.
- 3 min de leitura
Uma arreliadora lesão no pé direito afastou-o dos relvados enquanto jogador, mas nem por um instante apagou o seu amor profundo pelo futebol - uma paixão que o acompanhava desde a infância e que moldou grande parte da sua vida. O desporto sempre foi, para António Gil, mais do que uma simples atividade física: era um modo de viver, uma escola de valores e uma fonte inesgotável de emoções.
Impedido de continuar a jogar, procurou uma forma de permanecer ligado ao jogo que tanto amava. Assim, em 1979, deu início a uma nova etapa no seu percurso desportivo, ingressando na arbitragem. Tirou o respetivo curso em Coimbra, onde se destacou desde o início, concluindo-o com uma notável média de 18 valores, prova do seu empenho, da sua seriedade e da sua dedicação ao ofício.
Durante seis anos, António Gil foi árbitro distrital, período que na época correspondia ao tempo mínimo obrigatório para poder ascender aos quadros nacionais. Nesse tempo, demonstrou uma competência exemplar, marcada por rigor, sentido de justiça e profundo respeito pelo jogo e pelos seus intervenientes. Num desses anos, desempenhou ainda as funções de árbitro assistente nos quadros nacionais, mostrando desde logo a sua aptidão para desafios de maior exigência.
A sua ascensão foi sempre pautada pela excelência: em todos os anos de atividade a nível distrital foi o primeiro classificado e recebeu diversos prémios e louvores que reconheceram a sua qualidade técnica, o seu comportamento exemplar e a sua conduta irrepreensível dentro e fora de campo. O mérito e a honestidade eram as bandeiras que levava consigo a cada apito inicial.
Com a subida aos quadros nacionais, António Gil manteve a mesma postura de seriedade e imparcialidade que sempre o caracterizaram. Contudo, nem sempre o mérito e a ética bastavam para progredir. A sua carreira, embora marcada por talento e coerência, acabou por “estagnar”, como o próprio reconheceu, devido a situações e interesses com os quais nunca aceitou pactuar. A sua integridade falou sempre mais alto e foi essa coerência de princípios que o distinguiu entre tantos outros.
Descontente com a forma como a arbitragem era conduzida, e fiel à sua consciência e valores, António Gil decidiu, em 1994, após doze anos de atividade (interrompidos apenas por três anos devido a compromissos profissionais), solicitar o seu licenciamento à Federação Portuguesa de Futebol, encerrando oficialmente um ciclo que lhe deixou memórias, amizades e um legado de respeito.
Importa ainda salientar que António Gil é, até hoje, o único santanense, nascido e criado em Santana, freguesia do concelho da Figueira da Foz, que teve a honra de envergar, durante sete anos, o emblema da Federação Portuguesa de Futebol, representando com distinção o concelho e toda a região nas competições nacionais de futebol de 11. Um motivo de orgulho não apenas pessoal, mas também coletivo, símbolo de dedicação, esforço e amor à modalidade.
A fotografia que acompanha este texto é um testemunho vivo dessa caminhada: refere-se ao jogo Nacional – União da Madeira, disputado no Estádio dos Barreiros, no Funchal, em julho de 1990, integrado no Torneio Autonomia, em que o Nacional venceu por uma bola a zero. Nessa época futebolística, o árbitro António Gil contou com a colaboração de José Pereira e António Pinto como árbitros assistentes, formando uma equipa unida pelo mesmo espírito de paixão e respeito pelo futebol.
Mais do que um percurso de árbitro, a história de António Gil é a de um homem que fez do desporto uma missão e do futebol uma parte essencial da sua identidade, alguém que serviu o jogo com lealdade, dignidade e um amor inabalável pela camisola, pelo apito e pelos valores que o futebol representa: verdade, emoção e espírito de equipa.


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