google-site-verification=CikMQ90FidUj6FNShKo5KHyY17oDwxm11yEzwSavVLU
top of page

As Matinées | Casa da Música

Nos finais dos anos 80 - talvez em 1986 ou 1987 - a Casa da Música em Santana despertava para um ritual dominical que ninguém queria perder: as matinées.

O velho salão de festas, já carregado de memórias de bailes e concertos, transformava-se numa pista de dança vibrante. Os DJ's, ainda que amadores mas com um sentido apurado para a boa música da época, ocupavam a improvisada cabine instalada no palco, rodeados de discos de vinil que giravam a 33 e 45 rotações, emitindo aquele som quente e cheio de carácter que só o vinil consegue produzir. Uma simples mesa de mistura, dois gira-discos, duas colunas, uma mesa de iluminação e a bola de espelhos a rodar eram suficientes para criar magia - luzes a piscar e a refletir nos olhos e nos sorrisos de todos, inundando o salão com um brilho caleidoscópico.

Ao domingo à tarde, a Casa da Música respirava expectativa. À entrada, o aroma do café do bar misturava-se com o perfume das jovens que chegavam. Do lado esquerdo, a bilheteira marcava o início do encontro. Depois vinha a escolha: entrar no salão e entregar-se à dança ou subir as escadas para os camarotes, onde a vista panorâmica do salão oferecia outro encanto à festa, um espaço para observar discretamente e trocar pequenos gestos de cumplicidade. No piso superior, a sala de “ping-pong” fervilhava de risos e raquetes a baterem a bola; o ritual do “perde-sai” garantia que todos tivessem a sua vez, cada partida jogada até aos 21 pontos transformava-se numa pequena batalha alegre.

Dentro do salão, a música não parava. Durante horas, os corpos moviam-se ao ritmo, conversas e risos preenchiam o ar. E quando chegava o momento dos slows, tudo se aquietava: a luz baixava, os reflexos da bola de espelhos dançavam pelas paredes e pelos olhos dos jovens que se aproximavam, mãos tímidas a tocarem-se, olhares que se entrelaçavam. Cada slow era um instante de pura emoção, em que os gestos mais discretos contavam histórias mais intensas do que qualquer palavra.

Era nesse espaço que Santana se encontrava, domingo após domingo. Jovens - e não tão jovens - de toda a região vinham ali para conviver, dançar, rir e, muitas vezes, apaixonar-se. Ali nasciam primeiros amores, tímidos namoros que evoluiriam para relações duradouras, e até alguns casamentos. Tudo parecia mais simples, mais genuíno e mais verdadeiro.

As matinées terminaram em 1990, com o início das obras de demolição da velha Casa da Música. Ainda hoje, quem lá esteve sente o eco da música, o brilho da bola de espelhos e o calor da juventude que transformava cada domingo numa experiência inesquecível.


ree


Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page