As Peixeiras de Santana
- Jorge Monteiro
- 24 de jul.
- 2 min de leitura
Na aldeia de Santana a venda ambulante de peixe foi, durante muitos anos, uma atividade essencial no quotidiano da população. Este papel foi desempenhado maioritariamente por mulheres, as quais de forma incansável, percorriam as ruas a pé, com carrinhos de mão carregados de peixe fresco, vendendo-o porta a porta.
O peixe era comprado na lota da Figueira da Foz, muitas vezes ainda de madrugada, e, já em Santana, preparava-se o carrinho para iniciar a sua volta pelas casas da aldeia. O peixe mais comum era o da costa: sardinha, carapau, faneca, cavala ou, em dias melhores, polvo e lulas. A venda era feita diretamente à porta de cada morador, sem bancas, sem mercado fixo - apenas com a força do corpo, o andar firme e a voz que anunciava a chegada do peixe fresco.
Trata-se de um ofício que exigia esforço físico, resistência e uma enorme dedicação. Estas mulheres trabalhavam com sol ou com chuva, conhecendo todas as ruas e todos os rostos da aldeia. Muitas vezes vendiam a crédito, confiando na palavra das pessoas. A relação com os fregueses era de proximidade e respeito: sabiam quem gostava de peixe mais pequeno, quem tinha mais filhos, quem podia pagar já e quem precisava de esperar pelo fim do mês.
A venda ambulante de peixe em Santana não era apenas uma atividade comercial, mas também social. As peixeiras levavam conversa, davam notícias e ajudavam a manter vivo o espírito de comunidade. Eram figuras queridas, conhecidas por todos, e o seu trabalho fazia parte da rotina diária dos habitantes da aldeia.
Com o passar do tempo, a tradicional venda porta a porta feita a pé com carrinho de mão deu lugar a uma nova forma de venda ambulante: as carrinhas com caixas térmicas. Esta modernização trouxe benefícios evidentes tanto para as vendedoras como para os compradores. Para quem vende, o uso da carrinha permitiu transportar maiores quantidades de peixe com menor esforço físico, além de garantir melhores condições de higiene e conservação. Para os fregueses, tornou-se possível ter acesso a uma maior variedade de peixe, mais fresco e em melhores condições, mantendo-se ainda o conforto e a comodidade da venda porta a porta. Embora a relação próxima entre peixeira e cliente se tenha mantido, esta evolução marcou uma adaptação bem-sucedida às exigências dos tempos modernos, sem perder o espírito comunitário que sempre caracterizou esta prática em Santana.
Em resumo, a memória dessas mulheres, que com simplicidade e esforço garantiram o peixe fresco nas mesas da aldeia, continua viva entre os que as conheceram. A importância da venda ambulante de peixe em Santana reside precisamente nessa ligação direta entre quem vendia e quem comprava, entre vizinhos, entre pessoas que se conheciam. É uma herança de trabalho, entreajuda e proximidade que faz parte da história e da identidade da aldeia.
Elsa Figueiredo (comentário na página Santana/Fig.Foz Facebook):
"A minha avó materna ti Madalena"
Carlos Matos (comentário na página Santana/Fig.Foz Facebook): Descendente de peixeiros, também me calhou a tarefa da distribuição do peixe, primeiro de bicicleta e depois de motorizada (sem carta, não digam nada a ninguém). Reforço o carácter social desta atividade, destacando a amizade que se conquistava à generalidade das freguesas, muitas delas já não fazendo parte do reino dos vivos... mas sempre presentes! Tempos da "meia dúzia de 7" ou "dúzia de 13".
António Manuel Gil (comentário na página Santana/Fig.Foz Facebook):
"Muitos foram os peixeiros de qualidade e de prestígio, que ao longo de décadas serviram os habitantes da nossa terra. Mas o mais brilhante e fabuloso, de todos, foi sem dúvida, o saudoso Guilherme " Pretinho ", pois contava estórias e anedotas que eram de morrer a rir ! "
Adalberto Fernando Marques Figueiredo (comentário na página Santana/Fig.Foz Facebook):
"Antes dos carrinhos de mão, a Maria do pé curto, nome que era apelidada em Santana, vinha no comboio das 10.20, que vinha da Figueira para Santana, e ia com uma cesta à cabeça, vender o pescado que trazia. Ía a pé até à Ferreira, e depois vinha por Santana vender o sobrante, para ir novamente para a Figueira, no próximo comboio."