Bailes no Coreto: A Alma das Festas de Outros Tempos
- Jorge Monteiro
- 14 de nov.
- 2 min de leitura
Noutros tempos das Festas em Honra de Santa Ana, o coreto assumia-se como o centro de todas as atenções. Eram os anos 70 e 80, quando os bailaricos tinham um charme muito próprio e os afamados conjuntos de baile da época ainda cabiam todos naquele pequeno palco, ornamentado com luzes simples, flores e fitas coloridas.
À medida que a noite caía, o largo ia-se enchendo de gente. As famílias chegavam cedo para marcar lugar, os jovens aguardavam impacientes pelo primeiro acorde e os mais velhos procuravam um banco, com a certeza de que, em breve, os pés acabariam por se render ao ritmo.
Os conjuntos daquela época não precisavam de grandes aparelhagens: duas ou três colunas, amplificadores modestos, um teclado, uma guitarra, um baixo, uma bateria e, claro, os vocalistas sempre prontos a animar. Tudo encaixava naquele coreto que, apesar do tamanho, parecia ganhar vida quando a música começava. Era ali que se tocavam slows, valsas, passos dobles e hits da rádio que todos sabiam de cor.
Os pares formavam-se naturalmente. Uns dançavam bem juntinhos, outros mais desajeitados, mas sempre com alegria. As raparigas davam risadinhas quando eram convidadas para dançar, os rapazes ajeitavam a camisa antes de se aproximarem, e as mães observavam ao longe, tentando adivinhar futuros romances. O chão de terra batida transformava-se num verdadeiro salão de baile ao ar livre.
Era uma época em que tudo era mais simples: o palco não vinha sobre rodas, não havia luzes de espetáculo, máquinas de fumo ou colunas que abanavam o peito. O que havia era proximidade entre músicos e público, entre quem dançava e quem olhava, entre gerações que se cruzavam sem pressa. A música ecoava pelo largo, misturada com o cheiro a farturas, o rumor das conversas e o tilintar dos copos da tasquinha.
Só mais tarde surgiram os grandes conjuntos com camiões-palco, aparelhagem pesada e luzes que pintavam a noite. Mas para muitos, os verdadeiros bailes foram os do coreto, onde cada música parecia trazer um pedaço da vida, onde cada par de dançarinos escrevia uma memória e onde as festas tinham um encanto que hoje vive sobretudo na lembrança.


Que fotografia! O texto traz a minha memoria, mesmo isso, puto da cidade 15 anos e a prima Idalina a ensinar-me a dar os primeiros passos , beijos Idalina … saudades de Santana .