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Carta Aberta ao Povo da Freguesia de Ferreira-a-Nova

Carta Aberta ao Povo da Freguesia de Ferreira-a-Nova, pelo Dr. Albano Manuel Gomes Gil


Após o 25 de Abril começou-se a organizar a luta anti fascista por todo o país afastando-se dos lugares de direcção pública as pessoas que haviam servido o governo anterior. No nosso concelho a oposição ao regime fascista organizou o Movimento Democrático que tem andado ocupado com a substituição das Juntas de Freguesia.

Ao dar a minha colaboração ao Movimento não tive apenas em pensamento a substituição das Juntas mas também fazer com que o 25 de Abril chegasse à nossa freguesia, isto é, trabalhar para que todas as pessoas sintam que mudaram para melhor. Para isso penso que temos essencialmente dois caminhos a seguir: politizar a população (pela divulgação de noções básicas de política) e procurar o mais rapidamente possível melhorar as condições de vida, especialmente dos agricultores.

Sei que ao fim de pouco mais de dois meses muitos de vós não deram por qualquer melhoria. Contudo, não tem sido possível andar mais depressa, dado que a substituição das Juntas foi muito demorada por problemas sem importância motivados por 48 anos em que se não podia ter opinião política nem falar de política. Na nossa freguesia nada se fez além da substituição da Junta, não só por o Movimento ter andado ocupado com a substituição das outras Juntas do concelho, mas também devido à actuação dum grupo reaccionário de Ferreira-a-Nova. O mais curioso é que estes senhores num comunicado publicado no «A Voz da Figueira» de 11 de Julho e no «O Dever» e no »O Figueirense» de 13 de Julho nos vêm acusar de nada termos feito pela população, quando na verdade são eles os responsáveis por nos obrigarem a perder tempo.

Este grupo, ou por falta de experiência ou por vontade de semear a confusão, cometeu um erro enorme que está na origem de toda esta agitação: a não comparência em Santana no dia 16 de Junho. Volto a repetir que se tivessem deixado o povo lá ir ou se tivessem escolhido um comissão para lá ir, evitava-se toda esta discussão e agitação que nada trazem de proveitoso para a nossa freguesia. Mas não foi só aqui que o grupo da Ferreira se espalhou: entram em contradição quando depois de se negarem a ir a Santana e de se lançarem ao ataque nos jornais vêm depois dizer que não dão resposta nos jornais, só discutirão na presença do povo. Se gostam de discutir à frente do povo porque não foram a Santana? Se não gostam de polémica na imprensa porque nos vieram atacar? Será que a discussão que agora pretendem em público terá em fito o uso dos fortes «argumentos» que foram usados contra a carrinha que no dia 16 foi anunciar a reunião? Começam o comunicado por afirmar que ele foi o resultado duma reunião de «um grupo de indivíduos conscientes dos problemas de momento» e vêm falar em nome do povo, terminando com a afirmação «Somos a voz do povo». Perguntamos: quando e onde escolheu a população da freguesia esta «voz»? Porquê falar mais de vinte vezes no povo? Falta de cultura literária pouco desculpável num aluno universitário, ou vontade de passarem por aquilo que não são (representantes do povo)? Perguntam quem são os fascistas de Ferreira-a-Nova; o povo não é certamente e quem toma atitudes anti-democráticas em nome do povo, democrata não é certamente...

Quando querem justificar a actuação dos motoristas da noite do dia 16 na manifestação (com técnica puramente fascista) caem num emaranhado de palavras que nada abonam a favor de que as subscreveu: ou não se sabe exprimir ou precisa de recorrer à confusão; teria sido mais prudente não abordar o assunto! Finalmente acrescento que é muito infeliz vir falar de café-taberna e de junta digna e que não me parece nada sensato o comunicado ser encabeçado pelo filho do presidente da antiga Junta.

O que atrás fica não é a resposta ao grupo da Ferreira, já que este se nega a voltar a utilizar a imprensa, mas apenas um esclarecimento para a população. Se estivesse convencido de que pretendem esclarecer o assunto, estava pronto para a discussão pública, desde que se comprometessem a pagar a uma brigada da G.N.R. que estivesse presente, pois tenho dúvidas sobre a «força» dos argumentos que usariam. Penso porém, que apenas pretendem a confusão e a perda do nosso tempo para depois nos acusarem de inacção (a propósito, que terão já feito pelo povo, eles que nos acusam e que o dizem defender?).

Aproveito para esclarecer que o responsável pela escolha do local da reunião do dia 16 de Junho fui eu. No dia 14 pensei ainda em marcar para a Ferreira, para evitar complicações do tipo das que vieram a surgir. Não o fiz porque me pareceu ter razões para isso: a sede da Junta estava ainda à responsabilidade da lista de Caetano, pelo que uma entrega precipitada nos poderia acarretar graves responsabilidades; com o largo da Igreja não poderíamos contar face à anterior conduta do sr. padre que invocou os estatutos para a reunião não se efectuar na sede da Filarmónica Santanense e em1969 correu dois democratas (Freitas e Silva) quando nesse mesmo largo pretendiam afixar propaganda eleitoral da oposição. Não sendo na sede da Junta (que por outro lado também seria pequena para comportar tanta gente), onde a faríamos? Nos pinhais? Na estrada? Não estávamos interessados em nos apresentarmos como escorraçados. Por outro lado a reunião embora fosse para tratar de assuntos referentes â Junta era convocada pelo Movimento Democrático pelo que me parece que este teria o direito de escolha do local.

Esperando não ter de perder mais tempo com o assunto informamos que se devem iniciar os trabalhos de politização e estudo dos problemas da nossa freguesia após as festas de S.Tomé. Provavelmente aos fins de semana, quando a população tem mais tempo disponível. O mesmo se passa com os elementos do Movimento Democrático, que também têm de trabalhar para viver, pois não recebem dinheiro de Moscovo, como dizia o governo fascista, nem do governo, como fazia o governo fascista. Entretanto agradecemos que nos apresentem sugestões sobre o trabalho a realizar na nossa freguesia.


Nota: Provavelmente no próximo número falaremos sobre o número de habitantes de cada um dos lugares, para ver se aprendemos a lição...


Figueira da Foz, 14 de Julho de 1974 Albano Manuel Gomes Gil


O Figueirense, n.º 3983 de 27-07-1974
O Figueirense, n.º 3983 de 27-07-1974

O Figueirense, n.º 3983 de 27-07-1974
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