Fomos à descoberta dos montes de Santa Olaia e Ferrestelo
- Jorge Monteiro
- 21 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de mar. de 2024
Quem é que ainda não a viu, a espreitar pelo meio das árvores, mesmo na saída de Montemor-o-Velho, na A14? Cada vez que por ali passávamos ela acenava, mas desta vez convenceu-nos.
A Capela de Santa Eulália, ou Olaia, no topo do Monte de Santa Olaia, junta-se às ruínas vizinhas e à paisagem mediterrânica do Monte de Ferrestelo et voilá, nasce o casamento perfeito entre o natural e o cultural.
Subimos, expectantes, pelas escadas bem vincadas pelos séculos de pisoteio e a Capela de Santa Olaia começa a aparecer, tal e qual uma menina tímida, acostumada com a tranquilidade de um ancião. De uma simplicidade luminosa, encaixa naquele cume como se tivesse com ele nascido. O som do tráfego da autoestrada é abafado pela vegetação e a vista sobre os arrozais pode ser aproveitada na plenitude.
Há quem diga que a Capela foi construída no tempo do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, e há quem lhe atribua a mesma data da imagem de Santa Eulália nela resguardada, 1671. O que é certo é que acarreta um simbolismo especial para a população, não fosse Santa Eulália a padroeira da freguesia (Ferreira-a-Nova e Santana). Agora está fechada, a aguardar remodelações, mas a mera existência naquela envolvência é, para nós, motivo de visita.
Descendo o monte pelas traseiras da capela, deparamo-nos com o Castro de Santa Olaia, um povoado fortificado cujas ruínas sobressaem no meio da vegetação. A realidade é que, estarmos ali rodeados por aquela mancha de floresta autóctone, faz com que sintamos aquele pedaço de história com mais autenticidade.
As escavações, levadas a cabo pelo arqueólogo figueirense António dos Santos Rocha, entre o final do séc. XIX e início do séc. XX, revelaram a sobreposição de, pelo menos, seis povoamentos: um do Neolítico, três da Idade do Ferro, um Romano e um Medieval. É, no entanto, à Idade do Ferro que se associa várias das estruturas habitacionais, tal como a maioria dos artefactos recuperados. Pensa-se que, na altura, as águas do Mondego estariam mais altas, fazendo destes dois montes ilhas, entre as quais existiria um porto.
O vasto material, de origem púnico-fenícia, recuperado durante as escavações, confirma que este poderia ser um local de troca de produtos com povos além estreito de Gibraltar, como os Fenícios, que vinham em busca de minérios (como o estanho), vinho, trigo e mel. A paisagem mediterrânica aliada ao património histórico e arqueológico fazem deste um Sítio Classificado, que é como quem diz protegido, permitindo conservar os seus valores naturais, científicos e culturais, fazendo um uso sustentado do território e promovendo a educação ambiental e as visitas recreativas e científicas de forma ordenada.
Embrenhem-se no Monte do Ferrestelo e sintam a antiguidade deste bosque que, ainda que numa zona de influências atlânticas, é tipicamente calco-mediterrânico. Esta pequena mancha florestal é o testemunho de como seria o coberto vegetal do território centro-oeste de Portugal. Para além de espécies de excelência, como o carvalho-cerquinho, o aderno ou o ulmeiro, o porte de alguns exemplares diz-nos que a capela tinha razão, por estes montes vagueia o espirito ancião.
Texto / Foto: https://coolectiva.pt/2020/07/27/fomos-a-descoberta-dos-montes-de-santa-olaia-e-ferrestelo/

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