Ti Henriqueta

Sem licença de porta aberta, a Ti Henriqueta interpretou muitas vezes o papel de dona de pensão, porque servia de pronto-socorro aos viajantes que vendiam os seus produtos nas lojas da nossa terra. 

Batatas com bacalhau ou umas sandes era o que mais depressa se arranjava para saciar alguns estômagos menos prevenidos. Mas a Ti Henriqueta tinha outra faceta, era dotada na técnica de dar injecções. Sem diploma, mas valorizada pela vontade de ser prestável ao seu semelhante, o sofrimento do paciente notava-se, já que, só à terceira tentativa a agulha penetrava. Daí a sacramental pergunta que ela fazia: "Doeu?" 

A Ti Henriqueta era uma mulher forte, onde moravam oitenta e cinco anos aquando do seu falecimento. 

Texto extraído do livro "Outros Tempos" de Hélder Monteiro

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