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Jocafil: A fábrica que fez crescer Santana

Quem passa hoje por Santana, aldeia tranquila do concelho da Figueira da Foz, talvez não imagine o que significou, há mais de meio século, a chegada do ruído das máquinas e o cheiro da farinha moída que se espalhava no ar. Na década de 1960, quando o país ainda era rural e o trabalho se media pelo esforço das mãos, a instalação da fábrica de rações José Carqueijeiro & Filhos - Jocafil trouxe à pequena localidade um sopro de modernidade e, com ele, uma nova esperança.

Tudo começou em 1964, quando José Joaquim Carqueijeiro, comerciante conhecido na região pelo trato de cereais e farinhas, decidiu dar um passo arrojado: construir uma fábrica de rações para animais. Um projeto ambicioso para o tempo e para o lugar. Santana era então uma terra onde a vida se fazia devagar e as oportunidades eram poucas. A nova unidade industrial, erguida num terreno de 4.500 metros quadrados, veio alterar o ritmo e a própria alma da aldeia.

Nos primeiros tempos, eram apenas sete trabalhadores - quatro mulheres e três homens - que, entre o pó dos cereais e o calor das máquinas, garantiam a laboração. Mas aquele pequeno grupo representava mais do que um número: era o sinal de que Santana deixava de ser apenas um ponto no mapa para se tornar um centro de produção e emprego. Com o passar dos anos, a fábrica cresceu, modernizou-se e passou a empregar cerca de vinte pessoas - um número que, em contexto rural, significava estabilidade para muitas famílias e uma verdadeira transformação social.

A fábrica de rações Jocafil não só deu trabalho: deu dignidade. Manteve jovens na terra que, de outro modo, teriam partido para o estrangeiro ou para a cidade. Gerou movimento, comércio, circulação de mercadorias e de dinheiro.

Produzindo cerca de 600 toneladas por mês, a fábrica abastecia agricultores e criadores de várias regiões. As suas rações, feitas com misturas cuidadosas de cereais, bagaços e farinhas de peixe, eram conhecidas pela qualidade e consistência. Curiosamente, diziam os próprios gerentes, que os produtos vendiam mais “fora da terra do que dentro” - talvez porque, como se costuma dizer, “santos da casa não fazem milagres”. Mas, fora de Santana, o nome “Jocafil” ganhou prestígio, sendo procurado por quem valorizava o saber artesanal e a confiança de um produto feito com rigor.

Nos anos 70 e 80, a fábrica acompanhou o ritmo das mudanças: modernizou máquinas, montou silos, melhorou processos. Contudo, nunca perdeu o seu carácter familiar e o cuidado que a distinguia das grandes indústrias. Foi essa dimensão humana - o equilíbrio entre inovação e tradição - que fez dela um pilar do desenvolvimento local e um símbolo de orgulho para a população.

Hoje, olhando para trás, percebe-se que a história de Santana se confunde com a da fábrica. Onde havia campos, ergueu-se um polo de trabalho. Onde havia silêncio, ouviu-se o som constante das misturadoras e o eco dos passos dos trabalhadores. A “Jocafil” não foi apenas uma empresa: foi um marco de progresso, uma oportunidade de futuro e uma força silenciosa que moldou a vida de uma aldeia e de várias gerações.

Hoje, a JOCAFIL já não trabalha. As máquinas há muito se calaram, e o edifício que outrora pulsava vida e movimento repousa agora em silêncio, como testemunha de um tempo em que Santana se reinventou através do trabalho. Embora encerrada há várias décadas, a fábrica permanece viva na memória dos que ali trabalharam e nas histórias que ainda se contam. Porque, mais do que um espaço industrial, a JOCAFIL foi um símbolo de progresso, união e esperança e o seu nome continua a fazer parte da identidade de uma terra que aprendeu a crescer com ela.



Foto: Traseiras da Fábrica Jocafil - Google Maps Abril/2022
Foto: Traseiras da Fábrica Jocafil - Google Maps Abril/2022

2 comentários

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12 de nov.

Pena ter fechado🔒,As voltas que a vida tem dado😢

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Convidado:
11 de nov.
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Muito boa recordação

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