Serração de Fôja
- Jorge Monteiro
- 22 de mai. de 2019
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Atualizado: 22 de ago.
Num tempo em que o país ainda procurava equilibrar-se entre a ruralidade tradicional e os primeiros sinais de industrialização, a região de Santana assistiu, em 1923, à criação de uma estrutura pioneira que viria a marcar o seu tecido económico durante várias décadas: a Serração de Fôja.
A iniciativa partiu dos proprietários da Quinta de Fôja, uma extensa propriedade agrícola de grande relevância para a economia local, e contou com o impulso decisivo do seu então administrador, D. José Inácio de Castelo Branco, figura de visão empreendedora e atento ao potencial económico dos recursos florestais da região. Em conjunto, fundaram uma sociedade autónoma, especialmente criada com o objetivo de instalar e explorar uma fábrica de serração de madeira, atividade inovadora para a época no contexto local.
Com um capital inicial de 100 contos de réis - valor expressivo para o período -, a sociedade lançou as bases de um pequeno polo industrial em plena zona rural. O acesso privilegiado aos pinhais circundantes, abundantes em madeira resinosa de excelente qualidade, oferecia matéria-prima constante. A localização estratégica, no seio de uma propriedade bem organizada e próxima das principais vias de circulação local, permitia ainda escoar o produto com relativa facilidade para fora da aldeia.
A Serração de Fôja constituiu-se assim como um dos raros exemplos de indústria semi-mecanizada no território de Santana, empregando mão de obra local, introduzindo novas rotinas de trabalho e trazendo até à aldeia sons diferentes: o ritmo cadenciado das lâminas, o odor da madeira cortada, o movimento diário de homens, carros e ferramentas.
Ao longo de cerca de cinco décadas, a serração manteve-se em atividade contínua, conhecendo períodos de maior dinamismo nas décadas de 40, 50 e 60. Para além da sua função económica, tornou-se também símbolo de modernidade, exemplo de que era possível aliar a tradição agrícola a formas emergentes de produção e transformação de recursos naturais.
O seu encerramento, ocorrido já em meados dos anos 70, marcou o fim de uma era - não apenas pelo fecho das portas de uma fábrica, mas pelo desaparecimento de um modelo de atividade que durante décadas contribuiu para o sustento de muitas famílias e para a identidade económica da região.
Hoje, embora a sua estrutura física possa já não subsistir, a memória da Serração de Fôja permanece viva na história local como testemunho de iniciativa privada, visão empresarial e contributo industrial num meio essencialmente rural.
in "A Quinta de Fôja - do século XI ao século XXI", de Carlos Bobone:
"Em 1923 os proprietários da Quinta de Fôja e o seu administrador, D. José Inácio de Castelo Branco, fundaram uma sociedade autónoma, cujo fim era a construção de uma fábrica de serração de madeira.
A "Serração de Fôja" tinha um capital de 100 contos (...) manteve-se em funcionamento até meados dos anos 70".

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