Arroz Doce das Noivas
- Jorge Monteiro
- 23 de mai. de 2019
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Atualizado: 26 de jul.
Entre os rituais de outros tempos, doces na forma e no gesto, destaca-se uma prática encantadora, hoje quase esquecida, que marcava os preparativos do casamento nas aldeias da Beira Litoral: o envio de arroz doce como convite.
Algumas semanas antes da cerimónia, as noivas, envoltas na doçura da expectativa e na solenidade da tradição, percorriam casas de familiares e amigos, levando consigo travessas de arroz doce, meticulosamente preparado. Não se tratava apenas de uma oferta culinária, mas de um verdadeiro cartão de participação, um convite simbólico que anunciava com ternura o enlace iminente.
Transportadas em tabuleiros ou açafates - muitas vezes decorados com bordados e raminhos de flores - as travessas eram entregues com discrição e um sorriso, numa coreografia silenciosa que revelava o cuidado e a delicadeza com que a ocasião era vivida. O arroz doce, polvilhado com canela em traços artísticos ou iniciais entrelaçadas, não era apenas sobremesa: era promessa de partilha, celebração e união.
Mais do que um anúncio, este gesto desencadeava um ciclo de reciprocidade. Na devolução das travessas, os convidados entregavam os seus presentes de casamento - geralmente ofertas úteis para o novo lar, acompanhadas de palavras de afeto e votos de felicidade. Era, assim, estabelecida uma troca entre a doçura oferecida e a generosidade retribuída, tecida no silêncio cúmplice das tradições populares.
Hoje, esta prática repousa na memória dos mais velhos, como sinal de um tempo em que os convites se faziam com gestos, sabores e presença - e em que a doçura do arroz doce carregava consigo a alegria de um novo começo e a promessa de uma vida a dois.

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