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Outros Tempos...

Editorial:

O que a seguir se conta não tem outra pretensão que não seja recuar no tempo e recordar pessoas que foram marcantes durante a sua passagem pela vida.

Os mencionados já não pertencem ao número dos vivos. Por isso se aproveita para homenagear a sua memória. Por outo lado, pensou-se que este trabalho teria a sua justificação porque se recordam factos e pessoas que viveram neste torrão SANTANENSE.


Informação:

Devido à falta de documentos escritos que esclareçam a toponímia, optou-se por recolher alguns dados junto da população mais idosa. Infelizmente não se conseguiram obter certezas de nada, apenas se supõe que a origem do seu nome se deve ao facto de a Santa padroeira se denominar Ana. Assim, por junção dos dois nomes Santa + Ana obteve-se, naturalmente, Santana.


Lenda de Santana:

Contam pessoas idóneas, tendo por base estudos feitos acerca do tema em questão, que, por volta de 1646, quando toda a região era ainda mato, um homem, na sua rotineira passagem de negócios para os lugares da Gândara, se viu subitamente cercado de lobos. Sentindo-se ameaçado pelos ferozes canídeos e fazendo preces da sua fé, evocou a Santa Ana que lhe valesse, prometendo então erguer no local uma capela em sua honra, se escapasse ileso das garras das feras.

A capela, depois de edificada, atraiu ao local os frades da Irmandade dos Crúzios, pertencentes à Santa Cruz de Coimbra, que habitavam então o lugar da Quinta de Foja. Ai edificaram uma casa onde se instalaram. É ainda hoje conhecida por Escola Velha.

Assim nasceu Santana.

Os registos provam ter havido um crescente desenvolvimento da população desde aquela época.

A capela foi alagada duas vezes, tendo-se verificado última obra do género em 1987.


Situação Geográfica:

A aldeia de Santana fica situada na província da Beira Litoral, pertencendo ao distrito de Coimbra e concelho de Figueira da Foz. Assenta a povoação em areias geologicamente recentes e, portanto, sem relevo apreciável. Este facto e o da povoação estar rodeada de pinhais que se estendem por uma zona circundante também plana, torna inviável também a possibilidade de qualquer panorâmica da povoação. Dista por estrada, cerca de 16 km da Figueira da Foz e cerca de 7 km de Montemor-o-Velho, a Sul com a Ereira e Maiorca, a Poente com Alhadas e a Norte com Ferreira-a-Nova.

A área de influência da Escola abrange ainda os lugares de Seixido e Azeha-a-Nova.


Locais de Interesse:

Em tempos remotos existia u castelo no monte de Santa olaia, que provavelmente teria sido construído pelos romanos. Era um castelo fortíssimo. Devido à sua localização teve um papel primordial na defesa de Coimbra, porque servia de obstáculo aos mouros e de escudo à gente cristã. Em 1166, D.Afonso Henriques oferece-o ao seu amigo D.Teotónio, primeiro prior de Santa Cruz. Também no outeiro de Santa Olaia existe a capela do mesmo nome, provavelmente do tempo do nosso primeiro rei de Portugal. Numa das muitas remodelações, foi-lhe abolido o painel de azulejos (segundo algumas informações, que datavam da segunda metade do século XVII). É uma capela simples como se pode observar através da fachada. No seu interior as paredes são pintadas e existe um arco cruzeiro. A imagem de Santa Olaia é de 1671. Do monte de Santa Olaia é possível ver os extraordinários campos de arroz, que formam uma magnífica paisagem que se perde no horizonte.

A meio da povoação de Santana encontra-se a capela da padroeira. É um edifício do século XIX, inspirado num setecentismo regional (simples e pobre na sua fachada). No seu exterior pode ver-se, por cima do portal, a data de 1896, época de remodelação. Nesta capela sobressaem as imagens de Santa Ana, obra do século XVII, Santo António, Rainha Santa Isabel, Coração de Cristo, Nossa Senhora, Menino Jesus de Praga e São Lucas.

Nas imediações de Santana situa-se a Quinta de Foja. Propriedade privada, que alcança uma extensa área de cerca de mil hectares dos quais 750 são aproveitados na cultura do arroz. Pratica-se a criação de gado bovino e cavalar. Noutros tempos foi pertença dos Crúzios de Coimbra.

A fachada do edifício desta Quinta é austera com aberturas rectangulares e com duas torres quadradas. No seu interior salientam-se azulejos policromos de concheado, do século XVIII, barrocos. O tecto está pintado com temas do mesmo tipo. Noutra sala, evidenciam-se azulejos de Lisboa, policromos dos fins do século XVIII, em losangos com rosetas médias.

Nesta mesma Quinta existe uma capela dedicada a Santa Conceição, fundada em 1593. No pavimento põe-se em relevo a campa do Prior Geral da Congregação Crúzia - D. Tomás da Conceição.

Em Foja também se pode salientar a Mata, propriedade nacional e que ocupa uma área de cerca de 3640 hectares e é limitada pela nascente do rio Foja, que nasce na Lagoa da Vela e vai desaguar ao Mondego, junto a Sanfins. É uma sumptuosa floresta de pinheiros, mimosas, sobreiros, eucaliptos, etc.

Entre as espécies animais evidenciam-se o coelho, a lebre, o pato bravo, a rola, a garça, a perdiz, etc.


Cultura Para Todos:

Existem várias associações em Santana. Entre elas a Sociedade Musical Recreativa Instrutiva e Beneficente Santanense, mais conhecida pela Casa da Música fundada em 1 de Setembro de 1894, à qual pertencem o teatro, a filarmónica e a escola de música.

A filarmónica tem percorrido, ao longo de mais de cem anos, grande parte do nosso país em concertos, festas, sessões solenes e outras manifestações recreativas, culturais e artísticas.

A sociedade tem também tradição no teatro, especialmente na época do Natal.

Para angariar fundos para lares de idosos e creches, existe a Associação para o Desenvolvimento Cultural e Social de Santana.

Em Santana há também lugar para os jovens, através da Associação Juvenil de Apoio a Actividades Regionais (AJAAR), que apenas existe há três anos. Promove várias actividades, tais como, encontros de campo de trabalho e que tem o apoio do Instituto da Juventude.

Para o desporto existe o Clube Académico de Santana, praticando o futebol. E para bailes e folclore, o Rancho Rosas de Maio.


Festas de Santana:

No 1º de Maio o Rancho "Rosas de Maio", sai à rua para dar as boas vindas à chegada das flores. As jovens mulheres levam potes na cabeça enfeitados com flores naturais, dançando todos juntos pelas ruas da povoação.

Também na noite de dois para três de Maio os rapazes juntam-se e roubam carros de bois aos lavradores, reunindo-os num dos largos da povoação.

Celebram-se anualmente as festas de Santa Ana (a padroeira) no primeiro fim de semana de Agosto.

Realiza-se a procissão das velas na sexta-feira. No sábado há o baile com conjuntos próprios para o evento. Finalmente, no domingo a Filarmónica da terra percorre as ruas e toca à porta dos mordomos do próximo ano. Pela tarde assiste-se à missa cantada, seguida pela procissão. Quando esta recolhe, muitos foguetes são lançados. Já pela noite dentro, encerra-se a festa com novo bailarico.


Recuar e Recordar Cem Anos:

Para a história que se pretende contar, nada melhor como referência o ano de 1894 (248 anos depois do aparecimento da Lenda de Santana por volta de 1646), data da fundação da Sociedade Musical Santanense, uma colectividade vanguardista do distrito de Coimbra.

Gerações de músicos têm projectado o seu nome bem alto - fazendo da música o maior embaixador da cultura de Santana. E aqui, não pode de modo algum ficar no esquecimento, o nome de Manuel Maria Pleno, que durante muitos anos foi maestro da banda.

Lembra-se também com saudade os pavilhões do vencedor que eram instalados em frente à loja do Ti Coelho e a mocidade daquela época ao som de bons conjuntos de então, dançavam e cantavam até as gargantas doerem. Lá estava depois o Sr. Eugénio Farmacêutico para lhe dar a cura e a Ti Henriqueta nas injecções a três tempos.

Os ranchos folclóricos da Associação e da Música com uma rivalidade sã, procuravam, cada um, fazer melhor, para que o nome do seu rancho fosse mais falado do que o outro.

Nos anos quarenta, recordamos a Ti Clarinda que trazia sardinha no comboio das 10 e meia para saciar muitas famílias, onde não chegava a carne de qualquer tipo. Na padaria do Ti Benta e do Ti Zé Padeiro, fazia-se "bicha" para adquirir um quilo de pão ou de broa que acompanhava a sardinha ou o chicarro que a Ti Madalena vendia de porta a porta.

Recordamos também com saudade outras figuras que marcaram uma época neste torrão do concelho figueirense.

O Ti Emídio "Ferrador", o Ti Joaquim Alfaiate, o Ti Joaquim Pato, pai do Zé dos Ovos e do Quim Piúpa. O ferreiro Fadigas e Arrabaças da madeira. O Ti Figueiredo Cornetim, o Guilherme da Silva e António Celestino, dois irmãos e duas figuras de respeito cá da aldeia. O Tanoeiro, o João Ministro "o homem das pás", o barbeiro Adelino Sardão, a tremoceira Ti Certa, o pedreiro Toino Aníbal e o Ti Madeira dos Foguetes e muitos outros que poderiam ser incluídos nesta lista de recordações.

Foi nos anos quarenta que a professora Maria Mónica Nora iniciou o ensino em Santana, onde se manteve mais de quatro décadas. Figura muito querida e predominante no desenvolvimento de Santana, a professora Mónica foi homenageada pela população e o seu nome perpetua numa rua de Santana.

Os anos sessenta, roubaram à pacatez da aldeia vários jovens que foram em comissão de serviço para a guerra colonial - nesse Ultramar - agora África - perdeu a vida um jovem Santanense - António Joaquim Melanda de Oliveira.

Ainda aldeia, os habitantes de Santana, durante muitos anos, numa "luta" de homens, mulheres, papéis e processos, fez-se justiça e no final dos anos oitenta Santana passava a constituir a décima sexta freguesia do concelho da Figueira da Foz.

A viagem que fizemos foi de cem anos. Viagem que teve o condão de recuarmos no tempo e recordarmos pessoas, que foram marcantes durante a sua passagem pela vida. Os mencionados já não pertencem ao número dos vivos, e por isso, se aproveita para homenagear a sua memória.


O Que Dizer Dos Nossos Heróis:


Nota Final:

Dentro de muitos condicionalismos - bem o reconheço - algo deve ter falhado.

Mas. ao escrever estas recordações, foi como reviver a minha infância, voltar a ser criança, adolescente e rapaz, com todos os problemas próprios do despontar de homem, a tentar lançar-me nos braços da vida.


O Autor

Helder Monteiro



Capa do livro "Outros Tempos..."
Capa do livro "Outros Tempos..."

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